Lula recebe título de cidadão honorário de Paris

Aplaudido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu a honraria de cidadão honorário de Paris, nesta segunda-feira (2), como reconhecimento por sua atuação contra a miséria e a fome no Brasil. O petista viajou à França a convite de Anne Hidalgo, prefeita da capital francesa, para oficializar a honraria aprovada pelo Legislativo local enquanto o ex-presidente ainda era mantido preso político em Curitiba.

Em sua fala, Hidalgo teceu elogios ao político e afirmou que ter Lula como cidadão honorário era uma grande virtude para Paris.

“É uma honra atribuir esse título a uma grandíssima personalidade como Lula. É um título que demonstra nossos valores, atribuídos àqueles que lutam pela humanidade”, disse a prefeita. Em seguida, Hidalgo afirmou ter esperança de ver um Brasil “renovado”, com Lula, acompanhado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e de Fernando Haddad (PT), que estavam presentes na cerimônia.

Lula agradeceu o reconhecimento e discursou para centenas de pessoas. “Estou muito emocionado de estar aqui em Paris recebendo essa homenagem. Quando digo para vocês que tenho energia de 30, digo porque nunca estive mais motivado do que estou agora a brigar pela democracia no nosso país. Agradeço muito a vocês.”

“O povo de Paris me acolhe hoje entre seus cidadãos, como um reconhecimento pelo que fizemos, junto com tantos companheiros e com intensa participação social, para reduzir a desigualdade e combater a fome no Brasil”, agregou Lula.

O ex-presidente é o segundo brasileiro a receber o título de Cidadão Honorário de Paris, ao lado do líder indígena kayapó Raoni Metuktire. O líder sul-africano Nelson Mandela e o jornal francês Charlie Hebdo também já foram contemplados.

“Farsa judicial”

Hidalgo é a primeira mulher a ser prefeita de Paris e chegou a comemorar em seu Twitter quando Lula deixou a prisão. “É bom saber que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva acaba de ser libertado. Espero por ele o mais rápido possível em Paris, onde ele é Cidadão Honorário”, escreveu na ocasião.

Em seu discurso, Lula denunciou o processo “arbitrário e persecutório” que afastou Dilma Rousseff (PT) da presidência e, em seguida, o tornou “vítima da operação Lava Jato.

Em seguida, o ex-presidente narrou o momento em que soube que receberia o título de cidadão honorário e confessou se emocionar ao lembrar dos integrantes da Vigília Lula Livre, que lhe deram “bom dia e boa noite” durante os 580 dias em que permaneceu preso em Curitiba.

“Quando fui informado desse prêmio eu ainda estava preso e fiquei muito feliz. O que me deixou mais impressionado é que os carcereiros que cuidavam de mim também ficaram”, relatou Lula.

Ele ressaltou que poderia ter resistido à prisão, solicitado asilo em alguma embaixada ou em outro país, mas escolheu provar sua inocência.

“Depois dos 70 anos de idade, eu não poderia aparecer na capa dos jornais como fugitivo. Fui à Polícia Federal, porque alguém tinha que provar que o juiz Moro era mentiroso. Que os representantes do Ministério Públicos eram mentirosos. Que os delegados que fizeram o inquérito eram ardilosos. Eu tinha que provar minha inocência.”

Lula destacou ainda os feitos dos 13 anos de governos petistas, como a retirada de 36 milhões da pobreza extrema, assim como a saída do Brasil do Mapa da Fome.

“Meu dever”

O petista aproveitou para falar sobre os retrocessos da atual conjuntura política brasileira e denunciar as ameaças ao Estado Democrático de Direito promovido pelo governo Bolsonaro.

“O que está ocorrendo no Brasil é o resultado de um processo de enfraquecimento do processo democrático, estimulado pela ganância de uns poucos e por um desprezo mesquinho pelos direitos do povo; desprezo que tem raízes profundas, fincadas em 350 anos de escravagismo”, alertou, seguido por aplausos.

“É meu dever falar aqui em nome dos que sofrem, em meu país, com o desemprego e a pobreza, com a revogação de direitos históricos dos trabalhadores e a destruição das bases de um projeto de desenvolvimento sustentável, capaz de oferecer inclusão e oportunidades para todos. É meu dever falar em nome de milhões de famílias de agricultores, das populações que vivem à margem dos rios e nas florestas, dos indígenas e dos povos da Amazônia, para denunciar a deliberada destruição das fontes de vida em nosso país, por causa das políticas irresponsáveis e criminosas de um governo que ameaça o planeta”, denunciou o ex-presidente.

Justamente para discutir questões relacionadas ao meio ambiente e ao território Amazônico, o petista se reuniu com o renomado fotógrafo Sebastião Salgado. Em seguida, almoçou com o ex-presidente francês, François Hollande.

Agenda europeia

O petista iniciou seus compromissos na França no domingo (1), reunindo-se com políticos como deputado francês Eric Coquerel e o líder do grupo França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que visitou Lula em Curitiba quando o ex-presidente estava preso na sede da Polícia Federal.

A agenda do ex-presidente seguirá por outros países europeus. Em visita a Genebra, no dia 6, por exemplo, Lula se encontrará com representantes do Conselho Mundial das Igrejas (CMI), que congrega mais de 340 igrejas em mais de 120 países. Na pauta, o ex-presidente deve abordar a desigualdade social, tema central do encontro com o papa Francisco no Vaticano. Ainda na Suíça, o ex-presidente participa de encontro com representantes de sindicatos globais.

Já em Berlim, na Alemanha, o petista se reunirá com lideranças políticas e com representantes do movimento sindical alemão. No dia 9, participa de encontro em defesa da democracia no Brasil. Será um ato público em que encontrará representantes dos comitês internacionais Lula Livre.

Por Lu Sudré, do Brasil de Fato

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no whatsapp

Outras notícias relacionadas